O ser humano vai construindo ao
longo do caminho sua identidade, caracterizada em uma estrutura social,
histórica, política, ideológica e econômica. Nesta construção ele percorre o
seu deserto interior seguindo passo a passo pelas suas areias finas, até ser capaz
de compreender o sentido dessa passagem. Para tal, ele necessita aprender a ler
o deserto, assim como o beduíno é capaz de fazer sua trajetória, através do
conhecimento adquirido pelos astros e suas experiências.
O deserto interior conduz o homem a
viver sua interioridade. Enxerga que nada separa o que está em cima e o que
está embaixo. Despoja-se para ir mais além, no qual o olho abre-se como janela
para o espírito, mesmo compreendendo que há uma distância entre ele e o Todo. É
no seu deserto, de natureza árida, que a manifestação reveladora do sagrado acontece
e o homem vive sua realidade íntima.
É nessa busca do ser consigo mesmo,
que ele tem a capacidade de abrir-se para o Outro. Começa a entender que nas
relações entre os seres vivos existe uma interdependência com o meio ambiente, no
qual Deus está aí presente.
A passagem pelo deserto, de forma
metafórica, faz o ser humano enxergar a si mesmo e compreender a aridez do seu
coração, suscetível de transformações, podendo ser, portanto, objeto de sua
análise, chegando a descobrir que no deserto da Vida, há sempre a possibilidade
de encontrar um oásis em seguida.
Neneca Barbosa
João Pessoa, 22/06/2016