quarta-feira, 29 de agosto de 2007

CARRO DE BOI

    
  



Transporte rústico, de uma simplicidade ímpar, lento, mas de grande utilidade para as pessoas que moravam na zona rural, em épocas passadas e que hoje está quase esquecido.

A produção de um carro de boi contada pelos mais velhos, são lembranças que me chegam. Todo de madeira, era composto de um lastro, um eixo com duas rodas, estas tinham um anel de ferro para impedir o desgaste da roda. Possuía um cabeçote, no qual,  era atrelada uma canga colocada no pescoço dos bois, que muitas vezes formavam  mais de uma parelha. Outras peças também fazem parte do carro de boi como os fueiros, cocões e a cantadeira, esta última, ficava na parte inferior e se encaixava no eixo. Para produzir o som e o carro cantar, era usado um material tipo uma pasta ou graxa.

O canto do carro de boi se assemelhava a um gemido, dando orgulho ao carreiro, nome dado ao homem que o conduzia. Levava na mão uma vara fina com uma ponta de ferro para cutucar os bois, mantendo assim, um ritmo na caminhada e indicar a direção que deveria seguir. Aquele gemido  parecia mais uma música, mesmo que de forma um pouco triste, mas sem sombras de dúvidas, bem vinda ao ouvido do carreiro.

Conta minha avó paterna, que um dos ramos da nossa família que é Carreiro, derivou-se de um senhor que conduzia um carro de boi.

 Lembro quando criança, que em nossa comunidade, no sítio Jenipapeiro, todos os donos de terras tinham seu carro de boi, indispensável para a realização das tarefas da propriedade. Era usado para o transporte da cana de açúcar, na época da moagem, do capim para ser dado ao gado, do milho, do feijão, do algodão e outros tipos de cargas, como o que sobrava da produção agrícola e que poderia ser vendida nas cidadezinhas vizinhas, para ajudar no orçamento familiar. Servia ainda para transportar a lenha  para as padarias. Como era útil para os que tinham na agropecuária o seu sustento.

Sempre que Iracy, eu e Fábio, os três últimos irmãos da prole, ouvíamos, ao longe, o gemido do carro de boi corríamos para a calçada. Ali ficávamos ansiosos esperando que ele se aproximasse da nossa casa para sairmos correndo ao seu encontro. A alegria explodia em nossos corações quando subíamos em sua traseira e andávamos nem que fosse um pouquinho. Ah, lembrei o nome da parelha de boi, que puxava o carro de boi do nosso pai. Eles se chamavam Limoeiro e Limão.

A meninada da nossa época se contentava com as coisas simples, mas que nos davam prazer.

Nos dias atuais o carro de boi continua enriquecendo o folclore, como também a arte do nosso povo, tanto na música como na poesia.


Neneca Barbosa
João Pessoa, 28/08/2007

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O JUMENTO E A CARGA D'ÁGUA








Sertão nordestino, tempo de seca, onde os açudes existentes secavam ou ficavam com pouca água. Isso era motivo que levava os habitantes da minha Comunidade Jenipapeiro,  recorrer aos pequenos riachos, cavando em suas areias cacimbões ou pequenas cacimbas.

Usavam os instrumentos que possuíam como: a pá, a enxada, a alavanca e a picareta. Com muito trabalho as dificuldades iam surgindo, mas a perseverança era uma virtude presente na minha gente. Com paciência iam cavando palmo a palmo até dar nos veios d’água. Muitas vezes, eram acometidos pelo medo de não encontrar o precioso líquido, e qual não era a alegria de todos quando viam jorrar da areia o jato d'água. Cercavam o local com uma proteção de madeira para evitar a erosão ao seu redor.

Garantida a água, utilizava-se como transporte da cacimba até a casa, o jumento. Animal famoso pela sua grande resistência. Para tal, era colocada em seu dorso uma cangalha com cabeçotes e neles eram atrelados as ancoretas, ou barris, como chamavam no sítio. Assim, o jumento se transformava no veículo-tanque daqueles sertões.

E não poderia deixar de contar a minha aventura juntamente com a mana Iracy, onde várias vezes fomos buscar água na cacimba, mesmo sendo as menores da prole. Saíamos alegres, cantando, conversando, mas qual não era a nossa angústia quando acontecia do jumento deitar com a carga d’água ou empacar sem querer andar.  Nesta hora não sabíamos o que fazer a não ser chorar. Nossa esperança era aguardar a passagem de alguém, maior do que nós, para ajudar a levantar o nosso jumentinho tão útil, mas tão teimoso!

Com o desenvolvimento da tecnologia o jumento, que no passado foi um preciosismo meio de transporte e de carga, hoje está quase sem validade, a não ser nos sítios com poucos recursos econômicos. A eletrificação rural facilitou a vida do homem do campo, que  consegue bombear a água para as caixas d’água, tanto dos açudes que ficam perto das casas, como das cisternas que servem para acumular a água das chuvas, diminuindo, dessa forma, as dificuldades enfrentadas pela comunidade.

Ah, as boas recordações! Para que servem? Elas servem como alimento para o meu espírito e que são bem guardadas em minha memória, como verdadeiras relíquias. O passado ficou para trás, mas as lembranças são carícias ao meu coração e me ajudam a continuar escrevendo a minha história. Os pequenos símbolos da infância, por exemplo, são lembranças que o tempo não apaga!

Neneca Barbosa
João Pessoa, 23/08/07