Colégio Francisca Mendes
Cidade de Catolé do Rocha
Em
1962, com treze anos, voltamos para morar em Riacho dos Cavalos. Desta vez meu
pai passou a ser efetivo no emprego estadual, morando lá até os últimos dias de
sua existência.
Fui
estudar em Catolé do Rocha, cidade vizinha, de porte um pouco maior e de uma
distância pequena. Assim, poderia ir nos finais de semana para casa. Fiquei
morando na companhia de tios muito queridos, que por sinal no final deste mesmo
ano o meu tio veio a morrer. Fiquei triste, pois o queria muito bem, mas Deus
me deu forças para superar a sua falta.
Fiz
minha matrícula no Colégio Francisca Mendes, um entre os melhores colégios do
estado da Paraíba. De formação religiosa tinha um excelente ensino e muita
disciplina. Fundado por um filho da cidade e entregue as irmãs alemãs, da ordem
franciscana de Dillingem, educadoras que fugiram para o Brasil, na época do
Nazismo e que disseminou a educação nas terras áridas do sertão paraibano.
Ali, naquele oásis, estudei oito anos, onde conclui o curso Pedagógico. Gostava muito do colégio, das professoras, das colegas, que algumas se transformaram em verdadeiras amigas. Ah, como eu gostava das aulas de música, onde participava do coral, com a professora Madre Fátima, as aulas de educação física, com a professora Lenilda, tão jovem, mas tão determinada. Lembro-me das equipes de vôlei e handebol, das quais eu fazia parte. Aprendi muito com as aulas de trabalhos manuais, ministradas por uma Madre alemã que sabia pouco do português. Isso sem falar nas outras disciplinas, que eram ricas de conhecimentos e atividades, lecionadas por professoras capacitadas.
Outras experiências fui adquirindo no âmbito social. Época do surgimento dos namoros. Os bailes no clube UBAT, local quando já tinha completado meus quinze anos. Os passeios aos domingos à tarde, na praça principal da cidade, quando voltava da missa na igreja matriz. Passeava com minha prima Nancy, amiga de infância, pois era em sua casa que eu morava, para estudar. Época de um novo florescimento, onde a alegria era a tônica da nossa juventude, sem medo de sermos felizes.
Foi
nesse período que comecei realmente a entender melhor o cinema, apesar de ter
assistido poucos filmes, mas lembro de alguns: A Família Trapo, a Noviça
Rebelde, Sissi a Imperatriz... Sempre era levada pelas freiras, juntamente com
as outras alunas, tudo em fila de duas, pois o percurso era pequeno do colégio
ao prédio do cinema.
Devido
às condições financeiras, quase não tinha dinheiro para o cinema, o colégio era
particular e minha mãe fazia questão de pagar a mensalidade com a renda da
venda do leite das vaquinhas que a família mantinha. Meus pais jamais mediram
sacrifícios, em se tratando da educação dos filhos. Todos não se formaram por
falta de interesse próprio.
E
aquele amor platônico que o escolhido nem sabia... Não sabia ainda definir
direito o que era realidade e sonho. As primeiras decepções, os primeiros
desencontros, algumas vezes sem segurança, outras vezes não. E assim foi
seguindo o curso da minha vida como um rio, deixando as emoções e os
sentimentos fluírem com naturalidade.
Sempre
gostei da natureza, do ar livre e do canto dos pássaros. Nunca me senti bem em
grandes aglomerações de pessoas. Morando
mais de quatrocentos quilômetros de distância do litoral paraibano, só vim
conhecer o mar com dezoito anos. Encantei-me! A sua grandeza e sua energia
contagiaram-me. Foi um passeio feito com as freiras. Naquele momento estava
estudando a História da Paraíba e elas conseguiram trazer a turma do segundo
ano pedagógico para conhecer os principais pontos históricos que ficavam na
cidade João Pessoa, capital da Paraíba. Foi
uma viagem inesquecível para esta jovem sertaneja.
E as
aventuras da juventude continuaram. Com saudade recordo da festa da padroeira Nossa
Senhora dos Remédios. Participava tanto das comemorações religiosas, como da
parte profana. A juventude se alegrava com a chegada do parque de diversões
chamado “Parque Lima”, trazendo a roda gigante, os cavalinhos, os carrinhos, o
homem macaco e as musicas emitidas pelo alto-falante. A moçada se divertia
muito acompanhado do algodão doce, pipocas, roletes de cana, etc. O parque
iniciava suas atividades por volta das 16 horas, sempre tocando uma música da
orquestra alemã Bert Kaempfert chamada "Afrikaan Beat". E encerrava as atividades com a música da orquestra de Billy Vaughn: "Theme from A Summer Place".
Outra
atração que me atraia era o circo. Sempre que tinha um dinheirinho, que não fosse
me fazer falta, eu não perdia. Para tal, contava ainda com ajuda de um dos meus
irmãos que trabalhava em Catolé, que se chamava Damião, mas que todos conheciam
pelo apelido de Dão. Tudo no circo chamava minha atenção. Os trapezistas, os
malabaristas, as dançarinas, mas principalmente o palhaço. Figura essa que com
a cara pintada, estava sempre transmitindo alegria para o seu público, mesmo
que muitas vezes por debaixo daquela máscara se encontrasse um ser humano com
problemas, como todos nós.
Catolé
do Rocha, cidade que se tornou minha segunda casa. Lá foi onde realizei o sonho
de casar e ser mãe.
Neneca Barbosa
João Pessoa, 28/01/2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário