segunda-feira, 6 de agosto de 2007

MINHA ADOLESCÊNCIA



Colégio Francisca Mendes


Cidade de Catolé do Rocha





Em 1962, com treze anos, voltamos para morar em Riacho dos Cavalos. Desta vez meu pai passou a ser efetivo no emprego estadual, morando lá até os últimos dias de sua existência. 
Fui estudar em Catolé do Rocha, cidade vizinha, de porte um pouco maior e de uma distância pequena. Assim, poderia  ir nos finais de semana para casa. Fiquei morando na companhia de tios muito queridos, que por sinal no final deste mesmo ano o meu tio veio a morrer. Fiquei triste, pois o queria muito bem, mas Deus me deu forças para superar a sua falta.

Fiz minha matrícula no Colégio Francisca Mendes, um entre os melhores colégios do estado da Paraíba. De formação religiosa tinha um excelente ensino e muita disciplina. Fundado por um filho da cidade e entregue as irmãs alemãs, da ordem franciscana de Dillingem, educadoras que fugiram para o Brasil, na época do Nazismo e que disseminou a educação nas terras áridas do sertão paraibano.

Ali, naquele oásis, estudei oito anos, onde conclui o curso Pedagógico. Gostava muito do colégio, das professoras, das colegas, que algumas se transformaram em verdadeiras amigas. Ah, como eu gostava das aulas de música, onde participava do coral, com a professora Madre Fátima, as aulas de educação física, com a professora Lenilda, tão jovem, mas tão determinada. Lembro-me das equipes de vôlei e handebol, das quais eu fazia parte. Aprendi muito com as aulas de trabalhos manuais, ministradas por uma Madre alemã que sabia pouco do português. Isso sem falar nas outras disciplinas, que eram ricas de conhecimentos e atividades, lecionadas por professoras capacitadas.  

Outras experiências fui adquirindo no âmbito social. Época do surgimento dos namoros. Os bailes no clube UBAT, local quando já tinha completado meus quinze anos. Os passeios aos domingos à tarde, na praça principal da cidade, quando voltava da missa na igreja matriz. Passeava com minha prima Nancy, amiga de infância, pois era em sua casa que eu morava, para estudar.  Época de um novo florescimento, onde a alegria era a tônica da nossa juventude, sem medo de sermos felizes.

Foi nesse período que comecei realmente a entender melhor o cinema, apesar de ter assistido poucos filmes, mas lembro de alguns: A Família Trapo, a Noviça Rebelde, Sissi a Imperatriz... Sempre era levada pelas freiras, juntamente com as outras alunas, tudo em fila de duas, pois o percurso era pequeno do colégio ao prédio do cinema.

Devido às condições financeiras, quase não tinha dinheiro para o cinema, o colégio era particular e minha mãe fazia questão de pagar a mensalidade com a renda da venda do leite das vaquinhas que a família mantinha. Meus pais jamais mediram sacrifícios, em se tratando da educação dos filhos. Todos não se formaram por falta de interesse próprio.

E aquele amor platônico que o escolhido nem sabia... Não sabia ainda definir direito o que era realidade e sonho. As primeiras decepções, os primeiros desencontros, algumas vezes sem segurança, outras vezes não. E assim foi seguindo o curso da minha vida como um rio, deixando as emoções e os sentimentos fluírem com naturalidade.

Sempre gostei da natureza, do ar livre e do canto dos pássaros. Nunca me senti bem em grandes aglomerações de pessoas.  Morando mais de quatrocentos quilômetros de distância do litoral paraibano, só vim conhecer o mar com dezoito anos. Encantei-me! A sua grandeza e sua energia contagiaram-me. Foi um passeio feito com as freiras. Naquele momento estava estudando a História da Paraíba e elas conseguiram trazer a turma do segundo ano pedagógico para conhecer os principais pontos históricos que ficavam na cidade João Pessoa, capital da Paraíba.  Foi uma viagem inesquecível para esta jovem sertaneja.

E as aventuras da juventude continuaram. Com saudade recordo da festa da padroeira Nossa Senhora dos Remédios. Participava tanto das comemorações religiosas, como da parte profana. A juventude se alegrava com a chegada do parque de diversões chamado “Parque Lima”, trazendo a roda gigante, os cavalinhos, os carrinhos, o homem macaco e as musicas emitidas pelo alto-falante. A moçada se divertia muito acompanhado do algodão doce, pipocas, roletes de cana, etc. O parque iniciava suas atividades por volta das 16 horas, sempre tocando uma música da orquestra alemã Bert Kaempfert chamada "Afrikaan Beat". E encerrava as atividades com a música da orquestra de Billy Vaughn: "Theme from A Summer Place". 

Outra atração que me atraia era o circo. Sempre que tinha um dinheirinho, que não fosse me fazer falta, eu não perdia. Para tal, contava ainda com ajuda de um dos meus irmãos que trabalhava em Catolé, que se chamava Damião, mas que todos conheciam pelo apelido de Dão. Tudo no circo chamava minha atenção. Os trapezistas, os malabaristas, as dançarinas, mas principalmente o palhaço. Figura essa que com a cara pintada, estava sempre transmitindo alegria para o seu público, mesmo que muitas vezes por debaixo daquela máscara se encontrasse um ser humano com problemas, como todos nós.

Catolé do Rocha, cidade que se tornou minha segunda casa. Lá foi onde realizei o sonho de casar e ser mãe.

Neneca Barbosa
João Pessoa, 28/01/2006.

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