terça-feira, 7 de agosto de 2007

O ENGENHO



A cana-de-açúcar também era cultivada na comunidade do sítio Jenipapeiro.  Quase todos os donos das pequenas propriedades lá existentes, possuíam seus engenhos.

Final da década de cinquenta e lá estava a menina, já na pré-adolescência, subindo ao palco para representar mais uma cena da história de vida do seu povo.

Entre final de agosto e começo de setembro aconteciam as moagens. Na pequena terra do meu pai não havia engenho, mas ele moía sua cana no engenho do seu tio Almedinha, que era irmão da minha avó.

Época de alegria para todos. Quando meu tio marcava o dia para meu pai moer sua cana, eu e meus irmãos se alegravam com um evento de maneira tão simples, mas de um enorme significado para nós. Quem já viveu no campo, compreende a importância do que falo. Lá temos o ar puro, a liberdade de correr e brincar, o canto da passarada e o verde da paisagem na época das chuvas.

No dia acordado, toda a família se dirigia para o engenho. Tudo tão rústico, de forma manual, de uma simplicidade tamanha, mas que servia de divertimento para todos.

O Engenho era movido a tração animal, geralmente com juntas de bois, atrelados a uma canga de madeira, que  fazia o trabalho em círculo durante o dia todo. As moendas não paravam. Ficava penalizada com a situação dos bichinhos. Na minha meninice, eu achava que no final da tarde, eles estavam tontos de tanto rodar, e sem dúvidas cansados.

Tinha a fornalha, que funcionava à lenha, a caldeira onde era colocada a garapa ou caldo da cana, para ser transformada no mel e depois em rapadura. Antes de dar o ponto da rapadura era retirada uma parte para o mel e  o alfenim. Como era bom puxar até ficar esbranquiçado para depois saborear. Era a melhor parte que eu achava. O caldo também era delicioso com umas gotinhas de limão, mesmo sem gelo, pois naquela época o sítio não era eletrificado. Tudo era aproveitado. O bagaço da cana, por exemplo, servia depois para juntar com outras rações para a alimentação do gado.

Ah, era maravilhoso! O engenho ficava ainda, à beira do açude, onde a garotada aproveitava para tomar aquele banho. Tornava-se uma reunião de família, pois os que moravam mais perto iam se achegando para prosear.

Lembranças boas da minha infância e que o tempo não pode apagar a saudade que sinto dos momentos felizes.

Neneca Barbosa
João Pessoa, 13/02/2007


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